Diversas vezes escutei em consultório frases como: “Queria tanto ser mais forte!”, “sempre fui tão forte, mas agora…”, “por que não sou como essas pessoas fortes emocionalmente?”. Fica então a pergunta: O que chamamos de força e fraqueza em nossas vidas? Qual significado atribuímos a essas palavras?
Seria forte quem não chora? Quem não se afeta pelas vicissitudes da vida? Quem não entristece ou deprime? Quem não se desespera? Quem julga não precisar de ajuda? Quem carrega as dores sem reclamar? Quem não faz uso de medicação? Quem é “bem resolvido”? Quem passa por cima de tudo e de todos caso seja necessário?
Em meu trajeto pelo pensamento sistêmico, comecei a ver o mundo de uma maneira diferente: mais contextual, inter-relacional e complementar. Isso significa que me tornei atento e cuidadoso com lógicas de pensamento reducionista, que separam os processos em explicações de causa/efeito e entendem o viver através de categorias onde uma exclui a outra, sem possibilidades de articulação: o que é “barato” pode sair “caro”, algo confortável também perpetua desconfortos, a perda convive com ganhos, a limitação abre possibilidades, um ponto de vista é apenas uma única vista de um ponto e aquele que se faz de vítima pode ser ao mesmo tempo um grande algoz.
Todas as perguntas feitas logo acima sobre o significado de força representam esta lógica reducionista pela qual aquele que se vê ou é visto como forte, é alguém que não se abala, é firme, constante e nunca precisa de ajuda. É uma representação estática e literal do tipo: para ser isto, não pode ser também aquilo.
Quando pedimos a alguém que busque em sua tela mental uma imagem de força não raramente nos deparamos com símbolos como: muro alto e espesso, rocha, árvore frondosa e de tronco grosso, objetos de metal pesado (bigorna, por exemplo), imagens firmemente enraizadas e estáticas, tsunami, furacão, animais selvagens ferozes e pesados.
É inegável que esses símbolos nos transmitem segurança devido à sensação de impenetrabilidade, resistência e rigidez. Estão supostamente preparados para enfrentar qualquer perigo ou ameaça. Mas seria isso força? O que dizermos então das formigas e bambús? Onde foi parar o “jogo de cintura”, flexibilidade, maleabilidade e movimento? Aquilo que é forte não verga?
Além do mais, existe grande diferença entre ser forte e se sentir ou estar fortalecido em determinado momento. Será que para localizar a força como parte de minha personalidade, preciso me sentir forte o tempo todo?
Algumas pessoas chegam para o processo terapêutico com a sensação que a vida as partiu ao meio ou que literalmente desmoronaram. Uma boa parcela destas esteve caminhando com o seguinte diálogo interno: “Vamos lá! Tenho que aguentar! Isso não é nada! Não seja um fraco sentimental! Está tudo bem! Você dá conta!”. Imagine um burro de carga que se obriga a carregar cada vez mais e mais peso, afinal ele foi feito para isso, até que de repente, arria!
A crença da força que é sempre constante e nunca esmorece, qualidades vista como positivas, acaba por dar lugar à sensação de desamparo, fraqueza e vulnerabilidade, características comumente tidas como negativas e não desejadas. Nestes extremos que não permitem articulações, o sujeito encontra-se sem recursos e poder pessoal para agir sobre seus afetos. Não percebe que sua grande cobrança por fortaleza tornou-se também sua maior fraqueza.
Na sua visão de força há espaço para a fragilidade e inconstância?