Proponho um rápido exercício reflexivo: observe por um instante seu padrão de funcionamento para lidar com dificuldades e problemas. Quando me refiro a padrão, estou afirmando que cada um de nós tem a tendência a utilizar certos comportamentos, de forma repetitiva (não exclusiva), para lidar com as demandas da vida. Portanto, responda às perguntas abaixo:
– Qual tipo de problema tem o poder de me abalar mais, consegue me afetar de forma mais intensa? Para encontrar esta resposta você precisará olhar em retrospecto quais foram os maiores desafios que já enfrentou até o momento (financeiros, afetivos, familiares, profissionais, emocionais, etc).
– Diante destes problemas para onde, usualmente, direcionei minha energia física, mental e emocional? Pensar e “remoer” o problema ou buscar possíveis caminhos para sua superação?
– Considero-me mais eficiente em cultivar problemas ou encontrar soluções?
Vamos considerar problema tudo aquilo que ao acontecer atrapalha o fluir da vida. Perturba o bem estar emocional, traz stress e preocupação. Alguns problemas, além de tirar nosso sossego, nos dão a sensação de “virar a vida de cabeça para baixo”. É natural se abalar, doer, e brigar com eles num momento inicial. Precisamos expressar nossos sentimentos. Mas, deste ponto em diante surge uma diferenciação fundamental.
Algumas pessoas adoram ter problemas de estimação. Alimentam, mimam, levam pra passear e se apegam a eles de tal forma que não permitem sua superação. Tornam-se crônicos e imensamente necessários para quem os cultiva.
Estas pessoas apresentam uma tendência de “ruminação mental”. Pensam, repensam, repassam e reeditam infinitamente em sua tela mental o que está acontecendo ou aconteceu em algum lugar do passado. Correm o risco de se tornarem colecionadores (acumuladores) de problemas. E quanto mais pensam a respeito, mais distante e difícil parece estar a possibilidade de enfrentamento.
Outras pessoas direcionam seu foco para encontrar soluções. Isso não quer dizer que elas não tenham sentimentos, não angustiem diante de impasses, ou sejam fortalezas inabaláveis. Em algum momento, diante de uma dificuldade, elas começam a levantar possibilidades reais e plausíveis para lidar com o que está acontecendo. Mobilizam sua energia para o enfrentamento.
Estar em contato com o real é muito importante. Soluções mágicas e ideais só ajudam a perpetuar problemas. O real, apesar de limitado, pode nos oferecer algum arsenal. Toda limitação circunscreve também possibilidades.
Quando nos comprometemos com a solução, podemos até perceber que ela não será possível no momento, o que não impede de traçar estratégias a médio ou longo prazo para sua concretização. Podemos inclusive perceber que aquela dificuldade, que traz tanto desgaste, não é nossa, mas de outro (filho, esposa, chefe), e a adotamos sem crítica ou consciência. Até nos surpreendemos com a possível constatação de que se trata de um problema imaginário, criação da mente, que consome tempo e atenção sem necessidade.
Proponho que você se faça as seguintes perguntas diante de algum problema. Elas podem ajuda-lo a se localizar:
– Existe realmente um problema? (ele é real ou imaginário)
– Este problema é somente meu?
– Quem mais participa dele?
– Quem também precisaria se implicar com ele? (dividir as responsabilidades ajuda a sair do peso da culpa e impotência)
– Quem ou o que poderia me ajudar neste momento?
– Como me sinto pedindo ajuda?
– O que não é solução? (ou seja, atrapalha ou alimenta a dificuldade)
– Enquanto perco energia mental, física e emocional com este problema, o que deixo de fazer em minha vida? (ele me distrai de assuntos mais importantes com os quais preciso lidar?)
A vida constantemente nos coloca diante de problemas e dificuldades. É comum a sensação de impotência ou falta de recursos para lidar com algumas destas demandas. Mas, inegavelmente, aprendemos e evoluímos ao superar situações desafiadoras. Sentimo-nos empoderados.
Desejo que tenhamos mais problemas reais do que imaginários e que o apego não os transforme no foco de nossas vidas. Boa sorte!