Recebi esta imagem e a tinha guardado desde então, esperando o momento propício de compartilhá-la. Ao mesmo tempo simples e contundente, ela nos convida à reflexão sobre a maneira como estabelecemos nossas relações afetivas e nos alerta sobre o quão nocivo é nos alienarmos de nossas dificuldades emocionais.
Certa vez ouvi alguém dizer que a ignorância (no sentido de não ter consciência de algo) é uma benção. Será? Fugir ou evitar aquilo que dói e incomoda pode parecer uma boa estratégia de sobrevivência, mas na grande maioria das vezes também cobra um preço amargo.
Tolamente acreditamos que conseguimos driblar o trauma, problema ou dificuldade e nos convencemos que ele não existe mais, como que por mágica. Sentimo-nos espertos e poderosos. Entretanto, é fato: tudo aquilo que está em aberto ou mal resolvido em nossas vidas pede por fechamento e de alguma maneira retorna em busca de resolução.
Somos seres relacionais que querem amar e sentirem-se amados. Assim, o espaço dos afetos será propício para estas vivências que buscam uma oportunidade rumo à resolução. E se preferimos ignorar e não cuidamos destas dificuldades? O resultado será mais dor e distanciamento do amor em sucessivos relacionamentos. Arrastaremos a quem nos quer bem para uma espiral de confusão emocional ou reedição de relações disfuncionais passadas.
É o caso da mãe que compensa suas frustrações amorosas doando-se de maneira sufocante e exaustiva ao filho. Do rapaz que compete, disputa e ridiculariza a todos, mas internamente sente que sua vida é um erro. Do namorado que funciona como “bebê” e exige de sua companheira “babá” cuidado, atenção e compreensão com todas as suas imaturidades e “pisadas de bola”. Do marido que desconta sua raiva das injustiças do mundo na esposa e nos filhos. Daqueles que desejam ser amados, mas não se sentem dignos de amor ou de desfrutar de uma vida gratificante junto à outra pessoa.
Dessa maneira traímos nossa vida relacional, sabotando-a, em nome da lealdade às nossas “doenças” emocionais aprendidas ou herdadas na história familiar. Perdemos a oportunidade que a repetição nos dá de fazer diferente e ir além do papel que desempenhamos no script de nossas vidas.
A clareza e responsabilização por mudança só pode surgir quando lançamos luz nesses machucados emocionais que dificultam uma vida mais plena e realizada. A esse processo chamamos de conscientização ou olhar ampliado. A partir dele tomamos posse do que nos compete e escolhemos conscientemente o que podemos, queremos ou damos conta de fazer com isso.
Seres humanos machucados e “cegos” emocionalmente machucam-se reciprocamente num ciclo do sem fim. Ainda bem, existem várias ferramentas que podem nos ajudar neste difícil processo rumo a um maior nível de conscientização. A psicoterapia com certeza é uma delas.
Imagem: retirada da internet, autoria desconhecida.