Sobre a mania de querer mudar o outro

Seja na família, trabalho ou vida social estamos imersos em relações e constantemente esbarramos com o diferente.

Seja na família, trabalho ou vida social estamos imersos em relações e constantemente esbarramos com o diferente. Tudo o que difere de nossa forma de ação ou foge do que encaramos como usual tem o potencial de causar um misto de estranhamento e curiosidade, admiração e até mesmo incômodo.

Como Terapeuta de Casal sempre digo que as semelhanças, em uma relação, precisam ser suficientes para gerar identificação e afinidade, mas não intensas o bastante para impedirem o novo, fadando a interação à monotonia e ausência de evolução. Isso mesmo! Só evoluímos a partir do que não é usual, daquilo que quebra ou questiona o que está estagnado e enraizado. O diferente tem o potencial de desestabilizar “verdades” culturais, emocionais e comportamentais.

Mas, infelizmente, em alguns momentos, o diferente pode se tornar desestabilizador ao extremo. Isso acontece quando não somos capazes de encontrar recursos para manter uma relação saudável e nos frustramos com o choque de crenças, valores e repertórios comportamentais. Em vez de complementaridade e evolução optamos por oposição e competição. Queremos criticar, apontar, ensinar, controlar e direcionar. Sem perceber estabeleceu-se uma relação de poder onde o outro, errado e disfuncional, precisa aprender comigo a ser melhor. 

Atire a primeira pedra quem nunca incorreu neste erro!

Chamo de erro, pois um processo de mudança só pode acontecer se houver desejo e comprometimento por parte de quem pretende mudar. É prepotente acreditar que você mudará alguém. Pediram-me ajuda? Ótimo, veremos como posso ajudar. Tento convencer o outro de que ele precisa mudar? Constantemente me queixo, aponto “erros” e “equívocos”? Hora de reavaliar minha atitude.

“Mas, o jeito de fulano causa muito sofrimento a todos!”

Precisamos aprender a diferenciar o que é do outro do que é nosso. O comportamento dito “disfuncional” é um problema do outro e não cabe intervenção minha a não ser que seja solicitada. Agora, a forma como esse agir ressoa em mim é um problema meu. É muito disfuncional? Causa-me sofrimento e adoecimento? Então preciso me perguntar o que quero fazer com isso: cortar relações, aprender a me aproximar e afastar quando necessário, flexibilizar minha conduta, estabelecer limites, mudar minha forma de agir com esta pessoa, etc. Os caminhos podem ser muitos e precisarei descobrir o que quero, dou conta e me posicionar.

Perceba que neste caso a mudança não é do outro, mas minha. Por mais que eu tente suscitar uma reflexão, dê um “toque” ou alerte para as consequências danosas de um comportamento, compete ao outro decidir se isto faz sentido ou incomoda o suficiente para se implicar. 

Quando cobramos/exigimos mudança impomos nossa visão do que é certo e não lançarmos uma interrogação sobre nossas “verdades” ou repensamos uma interação que, por estar incômoda, talvez necessite ser reavaliada. O ditado popular, “os incomodados que se retirem”, nos lembra que o posicionamento é nosso.

Quantas vezes nos consultórios de psicologia os clientes se encontram aprisionados na necessidade de reclamar do filho, esposa, namorado, chefe, professora, amigo. É natural nos afetarmos ou entristecermos nas relações. Mas não é evolutivo esperarmos ou cobrarmos uma mudança que não seja a nossa. Será que estamos abertos ao aprendizado?

Toda relação tem um propósito de evolução. Nunca nos encontramos à toa ou por acaso com alguém. Fatores inconscientes atuam de forma silenciosa e influenciam nossos encontros pela vida. Portanto, somos todos aprendizes, em pé de igualdade, mesmo que em momentos distintos da caminhada.

Pra quê atraí este outro? O que necessito aprender? Qual o propósito evolutivo?

Proponho avaliarmos como anda nosso comprometimento com a evolução nas várias relações que estabelecemos.

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